Assim como no caso da primeira criança morta vítima da doença, Prefeitura tenta se esquivar da culpa ao afirmar que a vítima não era do município. Documentos mostrados pela mãe mostram que a filha morava em Parauapebas
Fala Sério: Olá, como vai?
Raquel (mãe da criança): Nada bem.
F.S.: Você mora em Parauapebas?
Raquel: Moro sim. Ainda estou tentando superar a morte da minha filha.
F.S.: Fale um pouco sobre o que aconteceu.
Raquel: A minha filha estava com muita febre há mais de uma semana. Como estava nascendo os dentinhos, pensamos que era isso. Mas, quando a febre não cessou, a levei para o postinho do Liberdade 1 e lá já foi detectada a leishmaniose e já fomos encaminhadas para o Hospital Municipal de Parauapebas.
(Pausa. Choro.)
Raquel (ainda emocionada): Estou revoltada com o que andam dizendo. Minha filha era moradora de Parauapebas. Nada vai me trazer ela de volta, mas a verdade precisa ser dita: no dia 09 passei o dia inteiro no Hospital esperando atendimento. Só fomos vistas às 21h e lá ela já foi internada. Só depois do dia 10 fomos levadas para o Hospital Regional, onde ficou até o dia 20. Dói muito tudo isso! Além de perder uma filha, a gente ficar vendo em notícias o que não procede
Estefane Romano dos Santos comemoraria, nesta sexta-feira (25), o seu primeiro ano de vida. A criança, moradora de Parauapebas, foi mais uma vítima da terrível e, em Parauapebas, quase incontrolável leishmaniose. Conforme relato emocionado da mãe, a criança começou a sentir os sintomas e, após uma semana de febre, foi levada até a Unidade de Saúde, local em que foi encaminhada para o centro médico.
Estefane precisou esperar por atendimento quase 12 horas. Ao ser examinada pelo médico, a constatação óbvia: o caso era grave. A menina foi imediatamente internada e começou a ser medicada contra o mal. Desde o dia 09 de maio sobre os cuidados da equipe médica, Estefane mostrou força para lutar contra o calazar por 11 dias.
No dia 20 de maio, sem forças para continuar a viver, a criança morreu em um leito de hospital. Para a Prefeitura de Parauapebas, a dor da mãe que perdeu uma filha não significou muita coisa, apenas uma estatística a ser calada.
Tentando se esquivar do problema, a Assessoria de Comunicação emitiu uma nota sobre o caso. Segundo o texto, a garotinha era paciente do município de Piçarra e só no dia 11 de maio havia dado entrada no hospital de Parauapebas, quando foi diagnosticada com o mal.
Mas, Raquel, de forma corajosa, desmentiu a versão da Prefeitura: “A minha filha nem nasceu em Piçarra! Ela é de São Geraldo do Araguaia! Isso aí é pra você ver que nem o município correto eles informaram! Temos parentes sim lá em Piçarra, mas residimos aqui no bairro Liberdade há bastante tempo. Não há motivos para eles inventarem isso! Só me traz mais dor.”
Raquel, para provar a sua versão dos fatos, apresentou o encaminhamento feito pelo médico no dia 09 de maio. Além disso, a mãe também tem em mãos o Cartão do SUS de Estefane, que diz claramente que o município de residência da criança é Parauapebas.
No dia 25 de maio, enquanto o poder público mente e se esquiva de suas responsabilidades dando desculpas cada vez mais esdrúxulas, uma mãe chora a data em que comemoraria o aniversário da filha.
Em um dia de festa, falta alegria, faltam balões, faltam cores… O que sobra são flores mortas em luto e notas distorcidas de uma gestão que quer esconder, a todo custo, um problema que é bem maior do que todos imaginam.