Coluna do Kleysykennyson Carneiro
Gozei quando ninguém me disse que era possível. Gozei sem entender direito o que isso queria dizer.
Trepei na Weyne, em frente a um supermercado que eu nem quero falar o nome, trepei na Pioneiros, na matinha; trepei no carro, na moto, em motéis horrorosos, em camas mal cheirosas; trepei.
E gozei. Gozei com alguns que não me chamaram de puta. Foi bom. Chorei de emoção.
Mas também chorei algumas vezes por estar em carne viva e, ainda assim, precisar trepar. Já teve que passar por isso? Não? Então, não julgue.
Tem criança em casa esperando – lá no Vale da Benção. Tem criança em casa que não faz a menor ideia do quanto custa viver; tem criança em casa que não quer saber da humilhação que é tudo isso. Mas essa criança tem que comer, né? De um jeito ou de outro, comida não pode faltar.
Eu fecho os olhos, nego, e deixo acontecer. E acontece.
Sim, admito, vi mais gente gozando do que gozei, mas tudo bem; ossos do ofício.
Casados, solteiros, casais… Todos eu vi. Perdi a conta de quantos gostos senti, de quantos corpos eu vi, de quantas vezes sofri calada, de quantas vezes o relógio pareceu parado, de quantas vezes ignorei ligações importantes… Ah, as vezes em que cedi a pedidos absurdos e trepei sem camisinha… Foram tantas.
No dia seguintes, testes e o pavor, o medo do fim. A vida é foda.
Mas o que eu não esqueço dessas ruas de Canaã é dos homens para quem gozei. Os poucos e bons que me deram a mão, que me beijaram os lábios, que resgataram a mulher que ainda sou.
Gozei. Orgasmos lindos.
As pessoas de coração melhor e mais justo penetram melhor e mais gostoso do que os ricos, belos e estúpidos pra quem dei.
Um coração bom faz amor. Amor faz gozar.
Gente comum trepa e quase nunca deixa algo além da boceta em carne viva.
Ainda quero gozar muito e tanto. Ainda quero fazer amor. E vou.
Mas, hoje, às 20h, trepo.